quinta-feira, 18 de agosto de 2011

the wonders of being retorta.

Família. É aquela palavra que nasce, cresce e morre connosco. É aquela que está presente em casamentos, batizados, aniversários, funerais e toda a espécie de eventos - em suma, presente na nossa vida. Opina, discute, oferece-nos uma bandeja de opções e ajuda-nos a escolher o melhor rumo a tomar. A família tira-nos do sério, faz-nos duvidar do mundo para acreditarmos em nós mesmos (e às vezes o contrário). São os primos, os tios, os avós, os pais - somos nós.

Quando somos crianças, avós e tios apertam-nos as bochechas e pegam-nos ao colo, sorriem e fazem toda a espécie de palhaçadas para sorrirmos com eles.Os eventos familiares são uma espécie de divertida tortura, e nós só conseguimos pensar no bigode da senhora que nos apertou as bochechas à cinco minutos atrás, ou na careca daquele tio velhote em segundo (ou terceiro!) grau, que está a sorrir para nós como se fôssemos muito estúpidos e não percebêssemos nada daquilo. A seguir, vêm os primos mais velhos, que fazem toda a espécie de patranhas para nos chatear a cabeça. Correm atrás de nós com máscaras horrendas, fazem barulhos estranhos, escondem as nossas coisas - em suma, fazem da nossa vida um verdadeiro inferno. Os pais e os avós confortam-nos quando choramos, e os irmãos mais novos preparam-se para adicionar um pouco mais de barulho à casa.

Crescendo, ultrapassam-se a morte de algum senhor mais velho da família, o casamento do tio, o 1º aniversário da irmã mais nova ou o nascimento de um primo. com 16 anos, ou antes, na adolescência, vamos para os aniversários e casamentos familiares a pensar que mais valia ter ido ao cinema com a não-sei-quantas. No entanto, os nossos pais insistem em levar-nos - devem apreciar as birras e o mau humor (que, por pior que seja, tenta-se disfarçar com um sorriso de " olá, desculpem mas estou aqui obrigada). Tempos injustos, esses. Mal sabemos nós que, em breve, se torna cada vez mais difícil juntar primos, tios e avós no mesmo espaço, pelo trabalho de uns e eventos alheios de outros. Mal sabemos nós que, mais cedo que o que pensamos, cada um de nós vai dar um rumo diferente à sua vida - o primo que agora tem uma namorada e mora longe, o tio que tem um trabalho difícil e nem sempre pode estar presente. Tornam-se escassas as reuniões familiares, e quase nos esquecemos do que elas significam.

Quando nos tornamos homens e mulheres, melhor dizendo maiores de idade, queremos os eventos familiares de volta - de preferência um calendário cheio deles. Seja porque a prima da província se vai casar, porque o primo da cidade faz anos ou simplesmente porque acabámos o secundário com uma excepcional média de 17,2 - o calendário tem de ter espaço para tudo. Os amigos à 6ª pela noite dentro, o sábado para descansar e o domingo para a família.

Talvez seja a escassez e raridade destes eventos que os torna tão importantes. É bom sentarmo-nos à mesa com um monte de pessoas que partilha o mesmo apelido que nós, ouvir histórias vergonhosas sobre os nossos pais e os nossos tios, ou relembrar com os primos as matreirices que fazíamos uns aos outros há uns anos atrás. Uma avó orgulhosa exibe os resultados escolares dos netos a primos de quem nunca ouvimos falar. Conhecemos as namoradas e namorados de cada um, falamos de eventos em que alguns não estiveram presentes, bebemos, comemos e rimos com as palhaçadas de cada um. É estranho e ao mesmo tempo enternecedor, observar como numa só casa cabem tantas memórias, tantas recordações, tantos sonhos. Uma família inteira, que nos viu crescer, que nos amparou as quedas e que foi connosco porque faz parte de nós.

E depois, no fim, cada um vai para o seu lado.
O primo, porque vai para o estrangeiro.
O tio porque tem de trabalhar.
Eu porque, de alguma forma, tenho de preservar as memórias antes que se apaguem, eventualmente, com o tempo. Damos graças a deus pelo Facebook, a Internet e o e-mail, que não nos deixam perder o contacto e nos aproximam, por mais longe que estejamos.

Mais dois dedos de conversa, beijinhos e "gostei de a ver", vamos embora que se faz tarde. Para o ano que vem, cá estaremos de novo. E fica tudo em família.



(para a família. porque sem vocês nada seria o que é)

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