terça-feira, 19 de julho de 2011

draft of a naïve teenage dream.

Era uma tarde que se adivinhava melancólica e aborrecida. Escura e tempestuosa. Sentada em frente ao computador, esperava ansiosamente por qualquer laivo de inspiração que me chegasse por magia, quando reparo que o telemóvel, calmamente pousado em cima da mesa, está a tocar. Olho para o nome marcado no écran, e atendo sem hesitar: o típico "estou sim" é o suficiente para a conversa que se seguirá.

Uma voz urgente requer e implora pela minha presença esta noite. Atrevo-me a perguntar o porquê, apenas para a mesma voz urgente deixar um misterioso "preciso de falar contigo", pairar no ar. Da janela adivinho que até à noite o tempo ficará pior, despeço-me da minha voz urgente e volto ao computador - apenas para perceber que de nada adianta, porque o nervosismo e a curiosidade se instalaram no lugar da inspiração que nunca chegou.

Ponho-me então a pensar na urgência da voz que ouvira há pouco. Há cerca de um ano que andamos neste jogo de urgência, da necessidade e do instinto que nos guiam e atraem. Penso em como todos os factores do universo jogam a nosso favor, para que as nossas almas se possam encontrar esporádica e momentaneamente, mantendo assim a lei imposta desde início pelo destino. Sem compromissos, pressas ou outros entraves - apenas eu, ele e o instinto.

Questiono-me acerca do motivo pelo qual a sua voz soara urgente, uma vez que de todas as razões possíveis, um "preciso de falar contigo" era o que menos esperava ouvir. Seria para mais um momento com o instinto ? Não sabia, mas aguardei nervosamente durante aquela tarde escura, até chegar o momento.

À hora combinada, já eu estava no ponto de encontro habitual - a esquina da minha rua. Ele chegou pouco depois, e eu apenas entrei com o habitual "boa noite" na ponta da língua. Em resposta, um beijo urgente. 'Que querias falar ?', inquiri, esperando o pior, enquanto arrancávamos por uma estrada já familiar. "Sentia a tua falta", ouvi em resposta, um murmúrio tímido que me deixou sem fala. Durante todo o caminho senti a mão dele na minha, e um silêncio seguro e confortável. Quando chegámos, saí do carro, respirei fundo e abri a porta de trás, numa espécie de convite silencioso, respondido sem pensar duas vezes. Também senti a tua falta. Seguiram-se os beijos urgentes, e o toque carinhoso. O instinto tornava-se cada vez mais sentimental, cada vez mais apurado, cada vez melhor.

Continuava a chover. Dentro do carro, despidos de qualquer amarra ou preconceito, estávamos mais próximos que nunca e a lei do universo funcionava novamente a nosso favor. Pensei que tínhamos acordado deixar o amor lá fora, disse eu, que nunca esperara um momento assim. Mais um beijo, longo e apaixonado, não sei se para me calar se para me provar que estava errada. Também eu pensava isso, respondeu. Pensei isso até ao momento em que percebi que sentia a tua falta. Até ao momento em que percebi que sinto por ti um carinho especial. Até ao momento em que percebi que te amo.

A lua impunha-se no horizonte, e o meu mutismo desaparecia gradualmente. Também te amo, respondi. E finalmente parou de chover.

(dedicado a JPS)