quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

bater eterno

Queria dizer tudo de uma só vez. Que por sua causa ela perdera toda a força que tinha. Toda a resistência que ainda oferecia. Entregara o seu coração, de bandeja. Esperara, ansiosa mas pacientemente. Erro crasso, ingénuo! Esperara para ver o seu coração partido. Estilhaçado em mil e um bocados. Magoado, ferido. Ainda batia, apesar de tudo.

Ele aproximara-se, vindo das sombras. Nas suas mãos, cobertas de sangue, jazia o coração dela. Agora parecendo inerte. Ela já mais esperara tamanha crueldade...

- Esperara mais de ti – dissera ele, nas mãos o coração que definhava, ainda batendo – Sim, esperava mais de ti.

Ela suspirou, encolhendo-se no chão.

- Dei-te tudo o que tinha, do melhor modo que fui capaz. Amei-te. O meu coração foi-te entregue de bandeja, juntamente com a chave para que pudesses lá entrar quando quisesses. Confiei-te o meu amor, a minha vida. Tudo o que fui, tudo o que sou, tudo o que serei está agora nas tuas mãos, frias e cruéis. Maltratado, castigado. Sem possuir culpa alguma.

Ele mantinha a mesma expressão neutra, indecifrável. Da sua boca, silêncio. Então, ela apercebe-se que nada do que fizera fora o suficiente. Dar-lhe tudo, para acabar assim. O seu rosto apenas expressava sofrimento, ao pegar no punhal fechando, por fim, os olhos para um bater eterno.