Afinal, para que precisamos do amor? Traz-nos as maiores desilusões, faz-nos sofrer. A verdade é que o amor nos faz falta. Pelo menos, àqueles que possuem um coração e pretendem fazer algum uso dele. Mas continuo sem entender, para quê?
O amor é bem capaz de nos estragar a vida. Conheço muito boa gente que seria capaz de deitar a vida para o lixo por amor. Este energúmeno, o amor, leva-nos acreditar em tudo. A criar uma fantasia tão imensa e tão intensa, que ao fim de um tempo pensamos que é real. E isso estraga-nos a vida. Dá-nos cabo do espírito, arruína-nos a alma. E continuo sem perceber qual a sua finalidade, se só causa estragos…
É claro que há pessoas que se transformam com o amor. Acendem um fogo novo, descobrem a Novidade, ficam com um brilhozinho especial nos olhos. O pior é quando, de um momento para o outro, tudo isso desaparece…
O mundo desaba. Cai-nos em cima, literalmente. Depois disto o que vem? Vem o drama, o choro, a depressão. Ficamos a chafurdar na auto-comiseração. E para quê? Ou, melhor, porquê? Por causa do amor. Única e exclusivamente o amor.
É por isso que agora começo a perceber, que, apesar de ser das coisas mais belas do mundo, há muitos que não a têm. E porquê? Porque o mundo assim o obriga.
Todos acabamos por nos entregar, mais cedo ou mais tarde. E tudo nos pode parecer o mais fabuloso possível quando amamos e somos amados. Quando descobrimos “o outro em nós e nós no outro”, como outrora alguém disse.
No entanto, quando tudo se acaba, sentimos que nos entregamos ao lixo. Não tenho maneira melhor de o descrever. Passado algum tempo, depois de entregarmos de todo a nossa vida a alguém em quem confiamos, somos deitados à rua como seres desprovidos de qualquer sentimento.
E em alturas como esta, cada um deve interrogar-se se a vida vale a pena. Ou então, interrogar-se se, no meio do seu altruísmo haverá espaço para algum egocentrismo. Isto porque uma pessoa não pode dar tudo da sua alma, da sua mente, do seu espírito a outros, sem parar um pouco para pensar em si mesma.
Um pouco de egocentrismo faz bem a todos. Se estivermos sempre e constantemente preocupados com o bem-estar dos outros, sentimo-nos seres sem alma, pois não paramos nem um minuto para pensar em nós.
E é assim o amor. Cruel ciência do mais impuro coração…
Inês Retorta 18. Abr. 2008